25 de abr. de 2024

O porta-retratos

 

Foto do google

 

 

Era quase uma da manhã, lembro-me que estava inquieta naquela madrugada, talvez pelo vento, que fazia o galho bater na janela do meu quarto insistentemente, ou por não conhecer a casa que acabara de comprar.

 Pelo anúncio, ela parecia menor, mas ao entrar, conhecer cada espaço, foi amor à primeira vista, com direito a decorar cada local com a minha imaginação. No momento, a minha decoração real incluía um colchão de ar, dois travesseiros, um edredom e uma caneca de café no chão.

Eu estava ansiosa, na verdade, tudo era novo ali, a casa, os vizinhos, a cidade, a cultura, porém, eu estava animada e feliz pela minha escolha.

Havia feito um excelente negócio, uma casa ainda bem conservada, por um preço irrisório, comparado ao “boom” no preço dos imóveis atualmente, a transação foi ótima.

Havia dois ou três móveis, que foram deixados para trás. Observando de perto, dava para entender o motivo: eram antigos, pesados e encaixados no cômodo. Eu teria um certo trabalho, com certeza.

Mas, voltando àquela noite posso afirmar que mudaria de vez a minha vida.

Como não conseguia dormir, e nada de televisão ou celular para me distrair, resolvi explorar um pouco mais a casa, a minha casa.

Levantei, apertei um pouco mais o nó do roupão, pois estava frio. Deixando a sala, passei pela cozinha, havia duas grandes janelas, por elas, eu conseguia ver algumas árvores e um pequeno lago. Imaginei o sol refletido naquela água, com certeza, daria para esquecer do tempo olhando por ela. Um pouco à frente, um pequeno corredor levava para os quartos, eram três. Um deles, futuramente, seria meu local de trabalho e leitura, cujo livro estava ansiosa para desencaixotar. Mais à frente um banheiro, não era muito grande, mas para mim tinha o mais importante: uma banheira, onde eu poderia relaxar, enquanto deixava alguma música da minha coletânea tocar.

Voltando para a sala, no canto uma pequena lareira, que iria ser muito útil no dia seguinte. Antes de entrar na casa, percebi que havia um pequeno depósito coberto com vários pedaços de lenha, já cortados. Ainda sobre à lareira havia um pequeno porta-retratos, mas sem foto alguma.

A luz, ainda que fraca do poste, iluminava aquela pequena peça. Era um tom escuro, esculpida à mão. Peguei para ver melhor os detalhes, fui até à janela, na esperança de iluminar um pouco mais. Percebi a delicadeza nos contornos e percebi que algo estava escrito, não a caneta, ou a lápis, mas era como se alguém esquentasse a ponta do ferro e, encostasse na peça formando cada palavra. Havia uma dedicatória, assinada e datada.

"Que o dia de hoje não seja apenas uma lembrança para o nosso- retrato". Sempre seu, Antônio. 20/10/1934.

Não era possível! Um tesouro em minhas mãos! Uma sensação de conforto e tristeza tomaram conta do meu coração. Lágrimas vinham, sem entender, molhando meu rosto.

Eu simplesmente precisava sentir, precisava tocar, uma última vez. Mas como? Nunca antes eu estivera ali. Antônio? Aquele ano? Impossível descrever e entender as emoções que se encontravam em mim. Eu segurava aquela pequena peça contra meu corpo, como se ali estivesse o sentimento mais puro e verdadeiro, a personificação do amor e, eu precisava cuidar, proteger. Sentei-me sobre o colchão, ainda com a peça na mão e, os olhos molhados.

Olhando para a janela, o som daquele galho batendo, fechei os olhos, e fui levada, por um instante, a um passado dentro daquela casa.

Havia pessoas, sorrisos, músicas, bebidas, era uma festa, era o meu casamento. Abri os olhos, minha respiração estava acelerada. Naquele momento soltei a peça, o som dela no chão, ecoou pela casa.

Definitivamente, não estava entendendo mais nada.

O que era aquilo tudo? Eu estava tão feliz, mas um pouco diferente, mais nova, mas eu sabia que era eu. Um rapaz estava ao meu lado, recebendo cumprimentos. Eu estava tão feliz, um pequeno buquê de margaridas estava entre minhas mãos. Foi tudo tão rápido, como num piscar de olhos. Aquilo tudo me deixou exausta, deitei em posição fetal, cobri minhas pernas e dormi, profundamente.

No sonho, eu estava em uma plantação de lavanda. O aroma das flores impregnava minhas roupas. O mesmo jovem do meu casamento estava ali comigo, com as mãos para trás pedindo para eu fechar os olhos.

Um pouco receosa, fechei.

-Pode abrir!

Nas suas mãos, um embrulho, em papel marrom, com um barbante em volta. Olhei para ele muito curiosa. Abri, dentro do pacote, um pequeno porta-retratos, feito à mão. Ele pediu:

- Vire a peça!

Ao virar encontrei uma frase escrita: "Que o dia de hoje não seja apenas uma lembrança para o nosso porta-retratos". Sempre seu, Antônio. 20/10/1934.

Abraçamo-nos e, eu acordei. Mais confusa, sem entender, coloquei a mão no chão e senti o porta-retratos. Já estava amanhecendo. Eu precisava entender o que significava tudo aquilo, ou era a minha imaginação que havia ficado tão fértil de repente.

A cidade era pequena, e muitos ainda dormiam. Encontrei uma pequena livraria, um sebo, para ser exata. Uma senhora veio sorridente me atender, chegando mais perto, ela parou, o sorriso deu lugar a uma expressão de espanto, ela balbuciou: - Renata?!...

Eu respondi: -Olá senhora, me chamo Bernarda, como vai?

-Não pode ser!

Naquele momento eu sabia que estava no lugar certo. Mostrei para ela o porta-retratos, a frase, e contei sobre a sensação e o sonho que tive.

Ela pediu para eu esperar, e voltou com um pequeno álbum. Colocou sobre a mesa e disse:

-Abra e entenda!

Meu olho não entendia como era possível a moça dos meus sonhos estar naquelas fotos, sim! Era ela ou melhor, era eu! Tirei a foto do plástico, atrás, estava escrito: Renata Dantas, 1934. Parece que toda a história se passou naquele ano, o que de fato a senhora confirmou. Ela me contou que trabalhou alguns anos para os últimos donos, os últimos herdeiros daquela casa. Falou que eles eram felizes ali, mas devido a uma dívida, o banco a tomou. E o final, daquela história, era eu. Ela pegou a foto, olhando fixamente disse:

- Ela te chamou de volta, ela queria a verdadeira e única dona aqui. Confesso que nunca acreditei nessas coisas…

Quando virei a outra folha do álbum, duas moças se abraçavam felizes, e uma pequena criança segurava na barra da saia de uma delas. Elas pareciam funcionárias, pelas vestimentas. O que foi confirmado pela senhora. Elas também trabalharam na casa.

Ela começou a me apresentar cada personagem daquele álbum, as moças da foto eram primas, Sofia e Fabíola, a pequena era filha de Sofia, seu nome era Deise. Naquele dia, havia um casamento na casa, e os empregados também tiraram fotos como lembrança, Sofia aproveitou para trazer sua filha junto, para ter uma lembrança. Infelizmente, naquele mesmo dia, de sorrisos e alegrias, o pai de Renata apareceu no meio da festa, ele era contra o casamento. Renata era muito rica, e por mais que Antônio tivesse dinheiro, o pai dela tinha certeza, de que ele só estava se casando pelo dote.

A confusão estava armada, e para não colocar a vida de Antônio em risco, Renata aceitou ir embora com seu pai, com a promessa a Antônio, de voltar ainda naquela noite, escondida para eles fugirem.

Mas ela nunca mais voltou. Bernarda não tinha se dado conta do tempo que ali estava, precisava voltar para esperar o caminhão com o restante da mudança, com a promessa de que voltaria outro dia, para saber mais sobre a família e a casa.

Volte sim, minha querida, temos muito o que conversar.

Antes de ir, Bernarda guardou o porta-retratos, e disse:

- Foi um prazer imenso conhecer a senhora, até outro dia!

A senhora fechou a porta, e vestiu seu avental para começar seu trabalho. No lado direito, abaixo da gola, o nome bordado, Deise Dantas. Ela fechou o álbum e viu Bernarda se afastando em direção à casa.

13 de mar. de 2024

A carta que nunca chegou

 



 

Tarde cinza, vento forte fazia os galhos das árvores dançarem no jardim. Eu precisava finalizar a mudança que começara há dois anos, naquele dia estava decidida a isso.

Sentei-me no chão frio do quarto, a última caixa findaria “ a saga da mudança”. O estilete seguia a linha no meio da caixa de papelão, cortando a fita, abri as abas da caixa.

Fotos, cadernos, rascunhos, canetas e memórias pulavam dela o tempo todo, a cada foto que eu pegava. Em cada papel fotográfico, um cheiro, uma saudade, ou uma dúvida.

Fotos fazem tantas coisas em nossas almas, embaralham nossos pensamentos e nos levam para tempos que, às vezes, não queremos revisitar, porém nosso inconsciente (ou consciente), não nos permite jogar aquele pedaço do tempo, no lixo.

Fui esvaziando a caixa, e enchendo a minha mente, no fundo, um pedaço de papel amarelo, dobrado três vezes. Abri.

Era uma carta datada de 1962. O que me causou uma certa estranheza, foi a escrita, não a reconheci como de ninguém próximo a mim. Ajeitei um pouco o corpo, recostando minhas costas na cama para ler.

“Minha querida Laura...”,

Com certeza não era de ninguém da minha família ou círculo próximo.

“... hoje não foi um dia fácil pois, estar longe de você é intolerável. Eu poderia esperar para lhe dizer tudo pessoalmente, porém, tenho a sensação de que isso, não será possível. No primeiro porto, providenciarei o envio desta carta. Talvez consiga com o Milton, da loja de penhores, sempre muito prestativo e atencioso com a nossa história, com o nosso amor.  Sei da desaprovação da sua família, jamais quiseram o nosso amor. Meus pensamentos, assim como as lágrimas rolam de saudade. Tenha a certeza de, que podem me mandar para o outro lado do mundo, eu acharei uma forma de sempre chegar até você.

Sempre seu,

Estácio.

25/08/1962”.

Uau, foi o que saiu ao finalizar a carta. É claro que meus pensamentos voaram para 1984, no meio do mar, aquele infinito, um homem solitário, um papel e uma caneta. Um porto, um amigo confidente, um amor proibido, um romance digno de streaming. Eu queria saber mais, queria saber se Laura e Estácio ficaram juntos para concretizar o amor, se foi Milton quem entregou a carta para ela. Mas não sabia nem por onde começar, ou melhor... talvez eu soubesse sim.

A caixa eu lembrava, havia pego em uma pequena mercearia, na minha antiga cidade. Talvez de lá saíssem mais respostas.

Olhei no relógio, já passavam das cinco horas da tarde. Se eu saísse naquele instante, chegaria naquela mesma noite. Guardei a carta na bolsa, troquei de roupa e saí. Eram quase dez horas da noite quando cheguei ao portal da minha cidade. Um suspiro me fez lembrar que nada havia mudado em muitos anos, um dos motivos que me fez ir embora. O mais irônico, é que sou uma mulher ligada às novidades, tecnologias e estava justamente voltando ao passado com uma das formas mais antigas de comunicação: a carta.

Antes de ir ao hotel, eu precisava ter a certeza, de que, o mercadinho ainda existia, por mais que eu soubesse que sim, precisava constatar. Lá estava ele, “La Barca Mercearia”. A mesma fachada, a mesma vitrine, com certeza os mesmos donos. Naquela hora, a cidade já dormia. Saí do carro, fui até a porta, bati no vidro. Esperei alguns minutos, e lá estava o senhor Gusmão, proprietário da loja, apertando os olhos por detrás das grossas lentes dos seus óculos para tentar reconhecer, quem batia àquela hora.

Eu disse: -Sou eu, senhor Gusmão, a Andréa. Como vai?

 Sorriu e virou a chave abrindo a porta.

- Quanto tempo menina! Estou bem e você? O que faz a essa hora, está de volta?

- Na verdade, só quero esclarecer uma dúvida.

- Entre, o que você precisa?

- Encontrei esta carta em uma caixa que o senhor me deu, no dia da minha mudança. O senhor a reconhece?

Seus olhos marejados, leram cada linha.

- Então estava com você?

- Eu a coloquei na caixa, deveria ter sumido com ela, mas não consegui. Vi a caixa vazia, e a deixei ali, até resolver o que fazer. Quando você entrou pedindo caixas, achei que era um sinal, e não pensei duas vezes. Pelo menos esta porcaria iria para longe e, nunca mais eu teria remorso ao ler estas linhas.

- Desculpe, não estou entendendo nada.

Ele respirou fundo, passou as mãos no rosto e balbuciou algo, que eu simplesmente não entendi.

- Não escutei senhor Gusmão, o que o senhor disse?

- Eu sou o Milton.

-  O Milton da loja de penhores?

- Sim, o Milton da loja de penhores, o Milton amigo, o Milton confidente e o Milton que destruiu duas vidas, três, na verdade.

- Mas como... o seu nome... o seu sobrenome. Nunca me atentei a isso, nunca soubemos o seu nome.

- Quando eu cheguei aqui, estava disposto a apagar tudo. Mas esta carta era uma triste sentença. Laura estava prometida a um outro homem, família importante, sobrenome, fatos que a gente acha que só existem em filmes. Quando eu conheci Estácio, ele me apresentou Laura apenas falando dela para mim. Dia após dia, me apaixonei por ela. Ele viajava muito, muitos meses longe, e eu fui me aproximando dela, me passando por Estácio, nas cartas. Ele as mandava para que eu as entregasse. Eu abria, lia e treinava a caligrafia. Mudava algumas palavras, as que eu queria dizer para ela, dobrava em três partes, como ele fazia. Foram anos e anos, por migalha de um amor que nem era para mim. Esta carta, foi a última notícia que eu tive dele. Eu não estava na loja quando ele a deixou, abri e li, senti como uma despedida. Isso significava que era o fim para mim também, e esta carta nunca chegou até ela. E nenhuma outra chegou até a minha loja. Não sei se o mar o levou em definitivo, ou se ele está por aí, vagando sem destino pensando nela. Por minha causa, esta carta nunca chegou, ela nunca teve mais notícias dele, e decidiu assumir o acordo que os pais haviam feito. Tempos depois ela estava casada, com filhos e indo embora para outro país. Nessa história toda perdi um amigo e um amor. Abandonei tudo e vim para cá. Mas o passado veio junto.

- O senhor não teve mais notícias dela?

- Nunca mais.

- Senhor Gusmão, encerre essa história. Mande a carta para ela.

- Não posso.

- O senhor deve isso a eles.

Um silêncio gritante dominou o ambiente.

Ela foi para Cremona, Itália.  

- É a sua história, o senhor precisa dar um ponto final.

- Não preciso, não vou. A vergonha não me permite. Por favor, vá embora.

Antes de sair, guardei a carta. Na vidraça, o reflexo de um homem arrasado pelo seu passado. Aquela história não era minha. O ponto final não poderia ser dado por mim. Entrei no carro, tudo aquilo não me permitiria dormir. Passei no posto, abasteci, liguei o carro, dobrei a esquina e segui rumo à minha cidade, deixando o passado onde deveria ficar. Às vezes, algumas histórias, não precisam de um ponto final, pelo simples fato de que, talvez, elas nunca tenham. Abri a janela e, antes de pegar a rodovia, a carta voou da minha mão e foi para longe. Mais uma vez.

6 de mar. de 2023

Na época das galochas

 



 

 Presenciei um fato, que me trouxe à memória um acessório, a galocha, que era usada sobre os calçados em dias de chuva. Principalmente as crianças, que gostavam de passar por dentro das poças, molhando assim, seu calçado.

Nem todos gostavam de usá-las. Era de borracha de cor preta. Não sei se havia, na época, outras cores. Ficavam bem, mesmo, com o uso de ternos.

Porém, havia o transtorno de onde guardá-las após chegar a um casamento, aniversário ou reunião, pois eram usadas com roupas sociais também.

Meu tio veio de outra cidade para o casamento de sua sobrinha e afilhada, sempre muito elegante, veio em época de muita chuva. É claro trouxe suas galochas, não entendi o porquê de trazer dois pares.

Todos estavam ocupados na preparação da festa do casamento. A igreja estava belíssima, era uma capela simples, porém ficou requintada com a bela ornamentação.

A hora do casamento chegou, a família e convidados à espera da noiva, na igreja.

Meu tio conduziria minha prima ao altar. Ela já estava aguardando dentro do carro, em frente à igreja. A chuva havia aumentado.

A hora passava e nada do meu tio aparecer. Não havia celular na época.

Meu primo foi até a casa para ver o que havia acontecido. Pasmem, ele estava calçando as galochas e desfilando em frente ao espelho para ver qual era mais ajeitada com o terno. Para mim, eram iguais, mas para ele não. Ele não queria que a galocha fosse notada, por isso tinha que ser semelhante ao seu sapato. Tudo certo, galocha escolhida, foram enfim, para a igreja.

As portas foram fechadas para a noiva chegar, meu tio se posicionou ao lado dela, a música começou. As portas foram abertas, e o casal surgiu, confesso que foi emocionante. Após alguns passos sobre o lindo tapete branco, meu tio ficou nervoso e pediu para parar. Ele havia esquecido de tirar as galochas. Foi hilário ver aquela cena. A maioria dos presentes não conseguiu segurar o riso.

Ele meio confuso apoiou-se em um banco e com cuidado tirou as galochas, outro problema, onde guardá-las?

Um senhor que estava rindo da situação disse a ele:

- Passe para mim, eu cuido delas para você.

O casamento prosseguiu tranquilamente.

Na sequência todos foram ao salão, ao lado da igreja, o qual estava lindo com flores do campo.

Os convidados estavam procurando seus lugares. E meu tio, (risos) procurando as suas galochas. O homem que as guardou não estava ali.

Meu pai estava ficando nervoso com o assunto. Falou ao meu tio:

-Pare de perturbar por causa de um par de galocha, se precisar eu lhe compro uma dúzia, mas agora aproveite o casamento de sua sobrinha.

Senti que ele havia se acalmado, mas ainda deixava transparecer sua ansiedade e aborrecimento.

A valsa dos noivos desativou um pouco a ansiedade dele. Todos queriam dançar com a noiva, o padrinho teve a sua vez, é claro. Neste tempo de dança contou à sobrinha o desaparecimento de suas galochas. Ela nem conseguiu ouvir toda a história, pois a música e o som da conversa estavam demasiadamente altos.

Hora de cortar o bolo, que foi feito pela comunidade, as fatias foram sendo distribuídas a todos.

Em toda festa ou reunião de amigos acontece algo inusitado, e neste casamento não podia faltar um fato para marcar a data.

O tio pediu um pedaço bem grande, pois gostava de doce.

Alguém secretamente, arrumou um prato enorme e lhe foi servido uma fatia de bolo dentro de suas galochas. Espanto!

Ele ficou sem graça e não entendeu a brincadeira (de mau gosto). A raiva fez seu rosto ficar muito vermelho. Muitos pararam de dançar para ver o que estava acontecendo. O riso correu solto, pura alegria.

Claro que ele não entendeu o motivo da graça, mas sim viu como humor negro.

A festa de casamento chegou ao final. Meu tio levantou-se bruscamente sob o olhar de todos, pegou as galochas e caminhou a passos largos, lá fora ergueu a mão com as galochas, e com muita força as atirou no rio. Havia bolo nelas e, por isso, ele ficou todo respingado de massa. Olhou-se e antes que começassem a rir dele, começou com uma bela gargalhada.

Ele ainda é vivo, e em cada festa de família o caso é contado. Ele com muita idade não esquece nenhum detalhe. E sempre complementa:

- Jamais usei galochas depois daquele dia fatídico.

4 de fev. de 2023

Lembranças com sabor de café

 


 

 

 

Passavam das 17h. Naquele dia, o frio estava mais intenso do que nos outros dias.

Olhei pela janela da cozinha, algumas folhas secas chocavam-se com as outras, poucos se arriscavam a sair de suas casas para jogar o lixo nas grandes latas colocadas nas calçadas.

Ajeitei um pouco mais o casaco contra o meu corpo, era hora de um café: pensei. Um café quente para mim sempre foi sinônimo de colo e aconchego.

Há um tempo, havia comprado uma pequena caneca esmaltada, de cor vermelha, com um pequeno coador branco fixado a um suporte, dava apenas para uma xícara de café, porém, para mim já era o suficiente. O gosto pelo café passado na hora, era muito particular era como uma bênção na hora exata. A sensação era maravilhosa, pois em instantes, a casa estava tomada por aquele aroma. Simplesmente incrível como uma pequena caneca e um pouco de pó de café podiam rescender pela casa toda.

Sentei-me na cadeira de frente para a janela da cozinha, entre um gole e outro, o aroma me levou para longe e por um momento, em um piscar de olhos, pude ver a minha querida mãe novamente, sentada ali comigo.

Foi dela que adquiri o gosto pelo café passado na hora.

Nossas conversas eram regadas a café e pão quentinho, com manteiga que derretia por todo o pão.

Ficávamos horas conversando, claro que a caneca e o coador eram maiores e de outro material.

Ela com frequência trazia sua cesta com novelos de lã, e sempre perguntava qual a minha cor preferida.

- Para que dessa vez, o que vai tricotar, mãe?

- Vou fazer um gorro, os dias têm sido mais frios, e não quero você reclamando de sinusite, (risos).

Eu apenas revirava os olhos feito criança e bebericava mais um pouco de café, no canto da boca um discreto sorriso, sentia a sensação de que era muito bom ser cuidada, mesmo com a idade que eu já estava.

Entre um ponto e outro, ela sempre olhava para a rua, para ver se o ônibus escolar já estava por perto, meu filho, seu neto, já estava na terceira série do ensino médio, o que significava que sua partida para outra cidade estava próxima. Ele iria estudar fora e teríamos que romper o cordão umbilical, o que com certeza, seria um pouco delicado.

- Mas como está demorando o ônibus! Já são quase seis horas, o que a gente faz?

Ela esperava pelo neto, ansiosamente.

Eu apenas sorria, enchia mais um pouco a caneca dela com café e continuava a ver seus pontos precisos, as agulhas se entrelaçavam rapidamente, dando forma a um novo gorro rosa, com detalhes em verde, já que eu não havia decidido a tempo que cor eu queria.

Eram tardes agradáveis, sinto falta do cheiro do café daquela época, que com certeza, possuía o sabor e aroma muito melhores, pois vinham com o aconchego de mãe.

O calor que trazia o fogão à lenha para a casa, o aconchego à mesa, as conversas com a minha mãe, são quase impossíveis de descrever. Sempre havia assunto, mesmo ela saindo pouco, sendo mais reclusa, ela sabia de tudo e mais um pouco, era incrível isso!

Talvez pelos anos em que ela trabalhou à frente do armazém da família, é... talvez fosse isso.

Olho para a minha pequena caneca, o café já está no fim.

Penso em fazer outro e continuar a divagar pelos anos em que eu conseguia ter a minha companheira comigo, minha querida companheira de café e prosa.

Hoje, o som dos ponteiros do relógio me ensurdece um pouco, ecoa não apenas pela casa, mas em meu coração.

O ônibus já não para aqui em frente de casa, os vizinhos já são outros e as árvores estão secando.

Mas, apesar de tudo o que o tempo vem me tirando, algo ele jamais irá conseguir, o aroma daquele café que eu tomava na companhia de minha mãe.

Levantei e coloquei mais água para ferver, pois seria bom continuar com as lembranças, que o café me trazia.

17 de jan. de 2023

Fogos de artifício

 



 

 

Em uma noite, daquelas típicas de inverno, em que se comemora a festa de São João com fogos e fogueira, havia muita gente na rua, outras nas janelas de suas casas, era uma época em que se soltavam balões. As crianças, ficavam ao longe sob os olhares dos pais, as luzes brilhavam no céu, estouros eram ouvidos a longa distância.

Uma menininha de um ano, fora colocada em sua cadeirinha, junto à janela para poder também, ver o brilho dos fogos e saber o porquê do barulho nas redondezas.

O tempo foi passando, a alegria era uma só, e a pequena criança sem muito entender, parecia querer ir lá fora, e junto festejar, juntava as mãozinhas e aplaudia no ar.

Em um dado momento, a mãe da pequena percebeu um grande clarão, que se fez em sua frente, não entendeu de imediato, e aos poucos tudo foi ficando escuro e o bebê iniciou um choro fortíssimo, a mãe, nada via para justificar tamanha dor nos gritos. Sentiu cheiro de algo queimado, percebeu que a criança apertava desesperada a roupinha contra o pescoço, foi então, que ela notou que um buscapé (peça de fogo de artifício que corre pelo chão, zigue zagueando, e termina em um estampido) estava grudado no pescoço da sua filhinha. Foi um tremendo susto. Nada acalmava a criança que foi levada às pressas, ao hospital. Era um tempo com menos recursos. E, assim começou a luta da pequena que sofria tanto quanto seus pais. O que agravou muito foi ter colado a roupa em uma grande área queimada, a qual ficou grudada na pele dela e, em um local coberto de nervos e dobras. Cada ida ao hospital era como enfrentar a dor da morte. E, assim foi por muito tempo, cada curativo, tudo era arrancado novamente, e continuava em carne viva. Com palavras não se pode registrar a dor da família. O processo de cura foi longo, a alimentação da menina, ficou comprometida, pois ela ainda mamava no peito e não conseguia forças para sugar o leite, a dor a fazia chorar e desistir de pedir o seu "mamá". Após longo período, a vida foi voltando ao normal, mas muito lentamente aí, veio outra preocupação da mãe, a enorme cicatriz que ficaria, e com o crescimento da menina, a marca iria esticar também e, estragaria seu lindo rostinho. Foi um tempo de muito medo, medo de perder a filha, medo das cicatrizes físicas e emocionais. O tempo passou, a cicatriz, por milagre, diminuiu de tamanho, é visível, mas não saiu do lugar, não quis esticar-se na pele da pequena, junto com o crescimento dela. A mãe sempre lhe contou como foi difícil passar esta fase repleta de medos, de choro, de contínuas orações, pedindo a Deus ajuda para aumentar-lhe a fé e a esperança. Sentia-se culpada pelo acontecimento e pelo sofrimento que quase a fez perder sua primeira filhinha.

Os fogos de artifícios não deveriam existir, pois sabemos que eles continuam machucando, mutilando, trazendo sofrimento a muitas pessoas. Hoje, estou aqui refletindo como foi difícil a vida do casal, sem poder curtir o comecinho de vida da primeira filha, penso que todos perderam um bom pedaço de vida, aquele que nos faz voltar alegres para casa, e encontrar nosso bebê batendo palminhas, fazendo festa para nós. Sinto saudades da minha mãe, porque sei o quanto sofreu para me curar, hoje a cicatriz está bem visível, e meu coração cheio de amor e saudades de uma família guerreira, pai e mãe amorosos e sempre presentes.

Observação: A mudança da terceira pessoa para a primeira, no final do texto, foi intencional.

 

 



23 de dez. de 2022

Feliz Natal e Próspero Ano Novo!


 

Que neste Natal e, em todos os dias do próximo ano, possamos fazer de Jesus nosso melhor amigo, pois Ele é o maior motivo desta e da nossa existência.

Que possamos embrulhar em nossos braços as pessoas queridas, as pessoas simples, as pessoas pobres, as pessoas que precisam da cura, as pessoas que precisam de um abraço, as que precisam do perdão, as que precisam ter mais fé, enfim todas as pessoas, que necessitam de amparo, que são com certeza, os melhores presentes, que poderemos ofertar.

 Vamos diminuir o barulho, caminhar mais devagar, prestar atenção nas pessoas que estão ao nosso lado, abaixar a cabeça e colocar a humildade pra funcionar. Somos grandes, quando somos pequenos.

Em todos os momentos difíceis Ele nos diz:

-Estarei contigo todos os dias até à consumação dos séculos. Não temas, porque eu estou contigo!

Desejo a todos os meus amigos do Naco de Prosa um Santo e Feliz Natal!

23 de nov. de 2022

Tempo acelerado, literatura reduzida




Na semana que passou aconteceu um fato extremamente curioso, que me levou a várias interrogações. Pedi a uma amiga que lesse o que eu estava lendo. Ela olhou para mim e com uma fisionomia estranha me disse:- Sério, você quer que eu leia tudo isso, agora, e no papel? 

Pensei que fosse pura brincadeira, pois o texto muito interessante, na minha opinião, era de uma lauda, o que significa umas trinta linhas. Por ser assunto de muito interesse e também conhecido por ela, a leitura lhe traria maiores esclarecimentos ao seu projeto, que estava em andamento. Ela percebeu meu desapontamento e explicou-me que estava com pouco tempo para realizar muitas tarefas. Ela sempre foi uma pessoa ativa na leitura, mas com hábitos digitais mais dominantes, percebi que ela não lia como antes, livros físicos, textos e jornais.

Completou dizendo que perdia menos tempo lendo na internet, e afirmou: o tempo está voando cada vez mais, e completou: aprendi e gostei muito de ler textos condensados. Lembrando que texto condensado é o que foi resumido ao essencial (do conjunto de fatos ou ideias de uma obra). Passei um bom tempo analisando o comportamento e resposta que ela me havia dado. Será que o tempo está mais acelerado ou nossa rotina faz com que a informação recebida já familiar, seja processada mais rapidamente, o que não nos deixa perceber que o tempo passou.

Continuei analisando o fato ocorrido e lembrei-me de que tempos atrás foi me solicitado um conto minimalista. Considerados microcontos: é um texto com início, meio e fim, específico e direto ao ponto, tem como limite inferior 37 letras e 50 palavras de limite superior. Um conto minimalista quando menos é mais. Menos tempo para ler e mais tempo para interpretar? Confesso que tive dificuldade em colocar minhas ideias com tão poucas palavras. 

A literatura minimalista não é novidade, pois já aparecia nas famosas fábulas de Esopo, porém foi a partir da metade do século XX que ganhou força, interesse e visibilidade. Com o avanço da tecnologia de comunicação e o advento das redes sociais, a rapidez do nosso tempo parece pedir justamente a brevidade e velocidade da microliteratura. Será que devido ao tempo, que parece voar vamos usar mais o lema minimalista? 

Menos coisas, mais espaço, menos distrações, mais tempo, menos compromissos, mais disponibilidade, menos projetos, mais produtividade, menos consumo, mais criação, menos bugigangas, mais coisas realmente importantes. Porém, continuamos ouvindo, o tempo está voando, até os cientistas confirmaram uma sensação peculiar dos últimos tempos: o mundo está mais acelerado. 

E não é figura de linguagem. No mês passado, a Terra completou a rotação mais rápida até hoje registrada, encerrando a contagem de 24 horas com 1,59 milissegundos a menos. Li uma matéria, extremamente interessante, que explica que não temos mais um dia de 24 horas e sim de 16 horas. Não vamos nos ater aqui sobre um ligeiro desvio no eixo de rotação do planeta, mas sim sobre a sensação de que ‘o tempo está voando’. “O tempo é uma ilusão. A única razão para o tempo existir é para que tudo não aconteça de uma vez”. Em 2020, as rotações foram completadas mais rapidamente em 28 ocasiões. Será que enquanto o tempo literalmente voa, os textos, poemas, contos, crônicas, notícias e outras formas de literatura tendem a ser de tamanho reduzido?


25 de out. de 2022

A honestidade que ainda surpreende

O combustível para o crescimento das vendas online, com certeza, foi a pandemia. No Brasil, porém, esse aumento foi além, e lidera o ranking de crescimento das vendas online, com 22,2% no ano de 2022. Além disso, estima-se um crescimento das compras online de 20,73% ao ano, entre 2022 e 2025”.

Dois fatores cruciais influenciaram o forte crescimento das vendas online no Brasil.

O primeiro deles foi a pandemia, uma vez que, com as lojas físicas fechadas, diversos brasileiros passaram a realizar sua primeira compra online. Ao encontrar facilidade na compra, métodos de pagamento instantâneos e entregas rápidas (diversas lojas com entregas em 1 dia útil), muitos deles se tornaram consumidores recorrentes.

A facilidade que temos hoje em relação às compras, era inimaginável há uns 10 anos. Ainda mais em nossas cidades, em que chuvas e frio não nos encorajam a sair para ver vitrines e as melhores ofertas.

Confesso que no começo, tinha “pé atrás” com a tecnologia e suas facilidades, foi uma conquista morosa, mas que teve um final feliz.

Entre uma compra e outra, eis que recebo uma mensagem do vendedor pedindo desculpas e perguntando se ele poderia finalizar a minha compra como entregue, pois no meio do caminho houve um problema, e iria atrasar, e sem este aval de recebido, o produto iria voltar e iria demorar ainda mais para eu receber.

Confesso que fiquei em dúvida, são tantos golpes nos dias de hoje, mas arrisquei, afinal, se eu tivesse algum problema, eu tinha as conversas gravadas e o Procon para me amparar. Sendo assim, respondi que poderia encerrar a venda sim, e que eu aguardaria o produto.

Porém, minhas dúvidas de que eu receberia a mercadoria aumentaram, porém no dia seguinte, logo nas primeiras horas, a campainha tocou, e lá estava ele, o entregador com o meu pacote.

Agradeci aliviada, confesso.

Após conferir o produto, fui até minhas mensagens arquivadas e agradeci ao vendedor pela honestidade e comprometimento comigo.

Aí comecei a pensar em algo que antes, não havia me dado conta: eu agradeci por uma pessoa ter sido honesta.

Algo que deveria ser corriqueiro, que não precisaria de agradecimentos, virou algo raro: a honestidade desceu da prateleira, e raramente é encontrada.

Vezes ou outra nos deparamos com histórias como: fulano encontrou dinheiro em um saco dentro do lixo e devolveu ao dono, ou sicrano encontrou o cachorrinho desaparecido e não aceitou a recompensa, ou beltrano viu cair do bolso do cidadão algum dinheiro e foi atrás para devolver.

É tão raro que vira manchete de primeira página.

Fico pensando em que caminho nos perdemos?

Não quero entrar em questões religiosas, apenas me pergunto onde está a empatia? Porque para mim, é claro que se houver empatia, há honestidade, não faça com o outro o que você não quer que façam com você.

Claro que eu mandando aquela mensagem de que estava tudo bem, e agradecendo, trouxe alívio para o vendedor também, mas a obrigação dele era ser honesto, não pela venda em si, e para manter sua reputação, mas por ele ser humano, assim como eu, e também passar por situações similares ao longo da vida.

Comprar online é rápido, fácil e muito prático. Uma das primeiras vantagens ao escolher comprar pela internet, é justamente a da comodidade.

Basta vencermos o medo e a insegurança e fazermos boas compras.


imagem Google


31 de ago. de 2022

Jô Soares

 Aqui tem feito dias de céu azul e, às vezes, cinza.  Lembro que justo neste dia, o céu estava azul, a temperatura agradável, ainda estava deitada, quando fui checar as notícias no celular. O dedo foi deslizando na tela, quando parou em uma notícia, a qual eu realmente não queria para começar o meu dia. Não que fosse meu parente, ou pessoa mais próxima, mas nos apegamos, sentimos carinho e admiração, nós respeitamos. E naquela manhã, ler sobre a morte de José Eugênio Soares, fez o céu ficar, de repente, cinza. Jô era desses artistas completos, como costumam chamar por aí, apresentador, ator, comediante, diretor, produtor, dramaturgo e artista plástico. Poliglota, falava português, francês, espanhol, inglês e italiano. Atuou e dirigiu quinze ou mais espetáculos. Apresentou-se em palcos, telas e, era engajado à literatura, unindo o humor ao jornalismo. Entrevistou mais de quinze mil personalidades brasileiras e internacionais. Criou personagens e bordões, que marcaram a TV brasileira. Suas críticas com pitadas de humor, eram encontradas em suas personagens no programa como: “Viva o Gordo”.

Além das telinhas, telonas, palcos, pudemos acompanhar o brilhantismo de Jô em páginas de livros, escreveu nove livros que se transformaram em best sellers, como foi o caso de o Xangô de Baker Street. Em 2016, entrou para a Academia Paulista de Letras, assumindo a cadeira 33, seu patrono era Teófilo Dias.

Jô foi o precursor de talk show no Brasil, entre artistas consagrados e novatos, ele conseguia extrair o melhor dos seus convidados.

Enquanto eu lia a notícia, uma história de um tempo bom foi passando em minha cabeça, tempo esse em que podíamos um pouco além, em que críticas eram aceitas para que se melhorasse tal situação, e não para ofender ou rebaixar a alguém.

Lembro da família reunida, lembro do relógio marcando meia-noite, e eu segurando o sono para assistir ao último bloco do programa.

Lembro do bordão, lembro de Jô brincando com a banda ou com o seu fiel escudeiro e garçom.

São tantas lembranças, momentos de como a vida é feita.

Lembro também de críticas a ele, seja por uma personagem, ou pela vida real em relação ao seu filho, também falecido.

Muitas vezes, as pessoas confundem a realidade com a ficção, e muitas outras não sabem da história a fundo e apenas criticam pelo sabor de criticar.

Jô é digno de aplausos, desses raros artistas que dão chance a outros que estão começando ou já esquecidos, de pessoas anônimas, mas de grande importância para o Brasil.

Deixa um legado admirável, sua história não será esquecida, e quiçá, eu ainda possa ver nascer um artista tão completo quanto ele.

“O Jô só pensava em uma coisa: repartir o pão da alegria”.

“Tudo ele acabava levando para o lado do humor, da alegria, e até há uma frase, que ele adorava, de um ator inglês, Edmund Gwenn que dizia o seguinte: ‘morrer é fácil, humor que é difícil’. Ele disse essa frase no leito de morte. E ele, agora nos últimos dias no hospital, voltou a repetir essa frase: ‘viver não é problemático, difícil é fazer humor'.

Em um ano em que o Brasil perde tanta gente importante, Jô Soares fará muita falta, como amigo, como artista, como ser humano.

E mais uma luz se apagou nos palcos da vida.

 


ImagemGoogle


2 de ago. de 2022

Estamos na Jornada do herói


 


“A aventura usual do herói começa com alguém de quem algo foi tirado, ou que sente que falta algo na experiência normal disponível ou permitida aos membros da sociedade. A pessoa, então, embarca em uma série de aventuras além do comum, seja para recuperar o que foi perdido ou para descobrir algum elixir que dá vida. Geralmente é um ciclo, uma vinda e uma volta.”

Joseph Campbell autor do clássico “O Herói de Mil Faces”, no qual ele conceituou a chamada do herói nos mitos, lendas, romances, fábulas e filmes modernos. Como estudioso norte-americano de mitologia e religião comparada ele decodificou os códigos de todas as civilizações desde que o mundo é mundo e tenham registro. Percebe-se que todo herói se origina de uma pessoa comum, sem muitos talentos, sem pretensões, apanha da vida e, às vezes sofre com discriminações. Não havia o conhecimento que temos hoje, então os antigos utilizavam histórias fantásticas com acontecimentos reais para dar um pouco de sentido à aventura da vida. Envolviam Deus, semideuses, criaturas sobrenaturais, heróis com grandes feitos.

Joseph Campbell após décadas de estudo chegou à conclusão de que a mesma estrutura era encontrada na história da humanidade como a história de Maomé, Buda, Jesus, Moisés, Albert Einstein, Madre Teresa de Calcutá, Gandhi e muitos outros. Falam sobre a ascensão de homens comuns a heróis. Esta estrutura é inflexível e infinita e, está presente também em sua vida, em minha vida, em nossa vida.  Seguem alguns títulos de filmes onde podemos perceber melhor a existência da estrutura de Campbell:

 O Mágico de Oz -(Dorothy). (Alice)- Alice no País das Maravilhas. De Volta para o Futuro- (Marty Mcfly). O Senhor dos Anéis- (Frodo). Harry Potter -Hermiane Granger. Matrix-Keanu Reeves. Toy Story-Buzz Lightyear. São alguns exemplos com histórias famosas que seguem sempre a mesma estrutura.

O herói sempre precisa de um mentor para lhe dar um empurrão, um conselho, mostrar-lhe o que fazer. O mentor é sempre uma figura especial como um livro, uma mensagem, um filme, um professor, um amigo, um padre, um médico e, aparece quando é necessário. Alguma coisa acontece e há o chamado para resolver alguma situação, porém o herói não sente que é capaz de fazer algo pelo bem maior. No entanto, quanto mais se recusa, mais a vida bate. Então, aparece o mentor que tem a função de despertar alguém para o chamado. Todos somos heróis e temos um chamado, porém somos heróis vivendo uma vida medíocre por não saber que somos heróis e, que podemos fazer muito pelo bem maior, sendo assim sofremos, no entanto com a dor aprendemos, pois o sofrimento nos educa. A jornada do herói se conecta com cada pessoa de maneira consciente ou inconsciente, provoca muitas emoções, pois mesmo sendo ficção possui elementos humanos. De repente, temos um personagem com uma vida comum, e surge um grande desafio, situação difícil, assustadora. O chamado por exemplo pode ser por diversas coisas, fatos ou pessoas.

 Neste caso, para exemplificar, a situação é de doença, e, é necessário fazer a escolha, sair da zona de conforto, o que se torna imensamente difícil.

Há a decisão: sair ou permanecer.

Há o medo, que é paralisante, e a insegurança maior: Não sou capaz.

A decisão deve ser tomada sem demora, pois, tudo tem seu preço e tempo. Mas o medo do desconhecido traz a insegurança, e tudo fica parado no tempo.

 Aí, surge o mentor, para ajudar, aconselhar, dar o empurrão inicial, e o desafio é aceito. É cruzado o limiar do conhecido e o desconhecido e, inicia-se a viagem para a chegada ao final.  Nem há necessidade de muito conhecimento nesta fase, pois não será útil aqui. Unem-se o chamado ao destino e às pessoas certas, as quais com a experiência que têm aparecerão neste momento, que é a hora certa. A jornada não será solitária. Então surge o herói, que percebe que toda a força está dentro dele. Basta mergulhar em si, e o poder vem à tona.

 Porém, haverá muitas situações em que tentarão enfraquecer o herói, quando isso acontece ele deve sempre subir à superfície, e assim voltar à vida, que não será mais a mesma. A volta será de uma pessoa mudada, transformada com os conhecimentos adquiridos durante a jornada.

O retorno será com um elixir, uma cura, um prêmio, um dom, ou outras coisas.

Vivemos e viveremos várias “jornadas do herói” em nossas vidas. E sempre haverá muitos amigos (mentores).

“A jornada do herói” não deixa de ser um método comprovado para se contar boas, belas e interessantes histórias.

O porta-retratos

  Foto do google     Era quase uma da manhã, lembro-me que estava inquieta naquela madrugada, talvez pelo vento, que fazia o galho bater...